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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Como se fabrica um avião?



É claro que, na vida real, demora um "pouquinho" mais...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Carta aberta aos futuros aviadores...

Curitiba,14/05/2010.

Então você quer ser um piloto!...

Vamos conversar um pouco. Se não sabe, quem lhe fala é um , com um pouco mais de quinze mil horas. Uma experiência, se não muito larga, bem razoável.

Entrei na escola aos dezessete anos. Quarenta e cinco vibrantes entusiastas me acompanhavam. Mundo mágico! Diferente do colégio, só nos ensinavam o que queria-mos aprender. Padrão de exigências alto, muito alto. E de novo diferente dos colégios onde a aprovação era aceita com apenas quarenta por cento, lá eram exigidos setenta de aproveitamento. As aulas teóricas eram ministradas em salas impregnadas de seriedade, o que nos tornava um grupo cercado de curiosidade admirada, pelos circundantes. E já nos lembrava a circunspeção com que deveríamos encarar os cursos.

Nos hangares, os cheiros de combustível, colas, tintas, o ronco dos motores, o clima descontraído, o fato de ninguém estar ali obrigado, tornava tudo mágico, extasiante. Havia a consciência de que estávamos sendo preparados para ser alguém especial. Homens definidos por Exupéry, Guillaume, Clostermann, Doolittle, como superiores. Capazes de misturarem-se às nuvens e voltar. Capazes de seguir através de largas áreas de desertos, florestas impenetráveis, oceanos imensos e regiões enregeladas, uma agulha imantada; e acharem o destino. Capazes de enfrentar, no ar, tenebrosas tempestades noturnas, dentro de meras caixas de madeira com alguns reforços de metal, e sobreviver...

Recebíamos montes de manuais e os devorávamos como se encerrassem contos saborosos em vez de frias instruções sobre matérias diversas tas como: meteorologia, navegação, aerodinâmica, eletricidade, motores, manutenção, sistemas, regulamentos; e ainda, teoria da pilotagem. A sublime arte que justificava o esforço. Pensava-se em tudo.

Os macacões nos davam a aura adequada. Já éramos alunos, já voávamos; já estávamos quase ficando “especiais”. E desfilávamos pelos hangares, imponentes, a despeito da nossa humilde condição, – alunos primários.

Para festas, comemorações, revoadas, demonstrações, etc. dispúnhamos de um uniforme calcado no padrão internacional, e com as “asas” da escola. E havia um desmedido orgulho em usá-lo.

Terminados os cursos que iam acontecendo espaçadamente, algumas vezes com anos de intervalo, Piloto Privado, Comercial, Instrumentos, Linha aérea, todos debaixo de provas duras, demoradas e freqüentes, testes de habilidade em vôo, percepção, julgamento, planejamento, – sem esquecer os famigerados exames médicos de permeio, psicológicos, fisiológicos, audiométricos, oftalmológicos etc. onde muitos viram se evanescer o sonho do vôo – íamos ainda enfrentar a seleção nas empresas operadoras. Mais provas e exames. Era um nunca acabar. Porem, já ficávamos mais perto de ser especiais.

A admissão era na posição de Co-piloto, quase um epíteto pejorativo, mas as duas faixas nos ombros, eram um anestésico potente.

Um dia, anos depois, virávamos debaixo de mais testes e exames torturantes, Comandantes!

Festas, comemorações, recebíamos o pergaminho final em solenidades pomposas. Discursos , parabéns, familiares presente, emoções a rodo e finalmente éramos declarados especiais. Mais faixas nos ombros, mais botões e asas douradas espetadas no peito; outorgando-nos o direito de ser donos de nós mesmos e do avião sob nossa responsabilidade. Autoridade máxima à bordo, devíamos explicações, se necessárias fossem por alguma atitude divergente, apenas quando no solo. E para autoridades que normalmente relutavam em nos fazer as perguntas de cunho mais impertinente. Nós éramos a autoridade competente no assunto e, portanto, dignos de crédito e do máximo respeito.

Havia ainda um salário compatível com a importância e liturgia do cargo. E aí sim, desfilávamos sob uma real aura mística, envolvidos por olhares de admiração, e por que não dizer, inveja.

Éramos, frente aos passageiros, figuras míticas. Recebíamos reverencias quase monásticas quando do embarque. Assumíamos a figura paterna no mais das vezes, o que é facilmente explicável. A nós, entregavam o bem mais precioso: a vida. Pois éramos os vultos capazes de aquietar os “deuses” do ar, dos vendavais, das tempestades. E traze-los são e salvos de volta à terra.

Quem sabe foi esse conjunto de benesses que lhes despertaram a vocação? E foi por isso que resolvi conversar com você.

Você, meu caro candidato, está chegando após a informatização. E isso muda tudo!

Comecemos pela escola.

– Turma? Pra que isso? Os candidatos a aluno vão chegando (aleatoriamente) em períodos espaçados e (aleatoriamente) recebem apostilas. (Pobres, incompletas, cópias tipo “fundo de quintal”, e pagam por elas.) Depois vão sendo preparados pelos “instrutores”...

E que já não são mais formados como instrutores. Não são treinados para tal. Antes eram. Havia o pesado curso de preparação de instrutores onde entravam matérias como prática de instrução, padronização e psicologia, e em vôo, manobras intermediárias e acrobáticas, treinadas à exaustão. Ao fim, eram os candidatos submetidos a duros exames teóricos e práticos, pelos inspetores do DAC – estrutura que controlava a aviação civil. Uns poucos eram aprovados.

Hoje, apenas pilotos um pouco mais voados, quase sempre sem outro emprego e que aceitem passar o pouco que sabem, concordando ainda em amealhar humildemente o pouquíssimo que as escolas – sempre “em crise” – se dignem a pagar, são considerados “instrutores”. Deste modo, ficam diferentes entre si. Diferentes em padrões, em exigências, em manobras aplicadas. Por falta do treinamento acrobático, desconhecem as atitudes anormais a que um avião pode ser levado pelos alunos, e quando acontece, dificilmente conseguem recuperar o vôo nivelado a tempo.

O acidente está pronto.

– Mas agora já há um número considerável (cerca de 15, 20 por cento?) de alunos preparados em “faculdades”, com uma instrução teórica muito superior!

Concordo; só que preparados para programar (superficialmente) e seguir (religiosamente)... computadores. Aviadores?

Mas fique tranqüilo. Não fará muita diferença. Pois você não estará cercado por entusiastas, por “vibradores”. A maioria dos atuais “candidatos”, busca apenas um emprego. Poderia ser nos balcões de venda de passagens, ao pé das escadas de embarque, nas salas asfixiantes. Iriam com o mesmo “entusiasmo”, sob o mesmo “encanto”, pois os ganhos já não diferem tanto.

– Macacões? Uniformes? Não acredito que ainda tenha gente pensando nisso, pô! Isso aqui é uma escola civil, meu chapa!...

– Padronização? Pra que isso? As empresas vão padronizar os candidatos, dentro dos seus parâmetros. Você também não vai querer que um piloto seja um letrado, um “doutor” não é mesmo?

A falta de conhecimentos é então festejada?

Lembre-se: você não estará mais sendo preparado para ser alguém “especial”. E sim para seguir o que os computadores, que deveriam se chamar “calculadores” em português nossa língua, originam. Você quando em vôo, estará sendo monitorado em todos os passos e deverá seguir rigidamente o que os executivos da sua empresa determinem.

Comandante? Ah... Não mais! Gerente de operações de vôo. Esse é o pomposo nome da sua “nobre” atual função à bordo.

– Que conversa é essa de “especiais”? Qualquer Zé Ruela pode ser piloto!

– Se espelhar em aviador decrépito, do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça? Qualé?

Até o uniforme, responsável por larga parte da citada aura, está em desuso. Muitas empresas já não os adotam, e quando o fazem é fora do padrão. Lembrando mais uma descontraída roupinha esporte. Pra que essa distinção descabida a meros gerentes de automação? Não, não é uma expressão minha; é deles, executivos, atuais donos da aviação.

Lamentavelmente nós permitimos. Deixamos acontecer, pois somos portadores do lirismo típico, compatível, com o aviador de verdade. Nós queríamos o ar, a amplidão, as nuvens. Os comportamentos mesquinhos, o “puxassaquismo” desenfreado, a maledicência, a ganância, girava dentro dos corredores bolorentos dos escritórios comerciais das empresas. Terreno fértil para desenvolvimento desse tipo de vírus, germinando farto entre os terráqueos.

Tudo no chão; nós éramos do ar, etéreos, sublimes.

Eles ganharam.

Perdemos o posto, a dignidade, a aura e também, lógico, o salário.

Você vai receber as suas licenças, hoje não tão suadas, (Será que isso é bom? Você se sente mais seguro sendo menos exigido?) pelo correio; friamente. Sem festas ou comemorações. Ou irá resgatá-las nos balcões mais frios ainda da “escola” que o preparou.

Preparou? – Mesmo?

E lembre-se: essas licenças menos doídas, menos exigidas, vêm com as nódoas do salário mais baixo. O que fará você ficar com um ganho próximo ou até menor, que o motorista de uma transportadora de bom nível.

Não que eu tenha nada contra um bom salário para quem enfrenta as péssimas e inseguras estradas brasileiras ou mesmo no resto da América “latrina”, em jornadas extenuantes conduzindo cargas preciosas, muitas vezes perigosas, ou ainda várias dezenas de vidas. Mas, considerando a complexidade da máquina, o meio onde se desloca e as pressões resultantes, seria esperável uma diferenciação maior.


Você estará sendo “programado” para a aviação ultra-moderna, de jatos, de ônibus aéreos, de transporte de massas, não há mais espaço pra essas “frescuras” do passado.

Que triste!

Em vez de seguir agulhas imantadas, um moderníssimo sistema GPS lhe informará que a antena do receptor está dentro de um círculo de menos de dois metros de raio, levando-o, – desde que não venha a falhar – “infalivelmente” ao destino. Sem cálculos, sem compensações de deriva, de declinação magnética, sem erros.

Consumo, avaliação de combustível, reservas, esqueça. Os “computadores” cuidarão de tudo. Você estará nos braços eletrônicos – ternos, mas temperamentais e imprevisíveis – da informática.

Não estará mais dentro de uma tosca caixa de madeira para enfrentar tempestades. E sim, dentro de um tubo de alumínio resistente. Resistente mas não muito, pois a estrutura terá que ser economicamente projetada. A concorrência é grande, o mercado estreito.

Os sofisticados radares lhe mostrarão com boa antecedência onde estão as tempestades, e você poderá contorná-las com desvios. Não muito grandes, pois os senhores executivos estarão de olho, e têm que economizar combustível. O que é que os acionistas irão dizer?

Se você, futuro colega, mudar a trajetória, a velocidade, a altura, a aceleração dos motores, mesmo com motivos de sobra para tal, ferindo minimamente que seja o que foi pré-programado, será infalivelmente chamado ao “tapetão”. Onde um “terráqueo” se achando o máximo, derramando as frustrações e inveja mal disfarçadas, além de desconhecer quase tudo de aviação, vai lhe torrar a paciência com perguntas imbecis e descabidas. E que devem ser respondidas em voz comedida, acompanhada de “sim senhor, não senhor”.

Sugiro ainda, manter orelhas murchas e rabo entre as pernas. Está sempre sobrando pilotos no mercado. Se falta, a Força Aérea os fornece de bom grado. Portanto...

As decisões de comando a serem tomadas de imediato e na direção certa, saíram da cabine. Estão numa sala climatizada, entre cafezinhos e refrigerantes, além de “bom papo” e totalmente indiferente ao resultado. A sala não vai cair com o avião. Portanto...

Se algo poderia cair junto com uma aeronave por ventura sinistrada, seria a reputação de um desses executivos. Mas aí ele estará vivo. Vai defender-se, contratar caros e respeitáveis advogados, (o salário permite, e há ainda uma ajuda substancial...) e dirigirá a culpa para o piloto. – Morto, indefeso.

Em sacrifício ao Molock moderno da aviação, este assumirá então a culpa. Fabricante e operadores comemorarão festivamente...

E se o tráfego, o mau tempo, ou mesmo se esses nobres senhores atuais donos da verdade, com as suas determinações esdrúxulas provocarem atrasos, em vez de reverenciado ao embarque, você será apupado. Será desrespeitado, ridicularizado, achincalhado, pelos passageiros que aprenderam que você não passa de um Zé Ruela.

Esse é o duro quadro. Realidade, acredito que “broxante”, para os que queiram ser aviadores. Lembrem-se, piloto qualquer Zé Ruela pode ser. Eles o dizem.

Diante dessa trágica visão, permita-me um conselho candidato a aviador; não a piloto, claro: arrume emprego, estude, tenha uma formatura terráquea qualquer e embarque depois na aviação aero-desportiva. Vá passear de avião nos fins de semana.

Se tiver posses mais adiante, compre o seu. Divirta-se, sinta-se satisfeito sendo aviador, mas não profissional. Esse é o último reduto onde existe aviação na plenitude do termo.

Embora não seja uma exceção, pois um número grande de profissões se extinguiu ou empalideceu com a informatização, dói constatar: a aviação profissional do passado, do meu tempo que não vai tão longe assim, acabou. Não existe mais. Mataram.

Seja feliz.


CMTE.TETTO (ACP).

Assino embaixo! CMTE. CASSARO

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pouso ILS cat. III-C




Alguém aqui já viu, da cabine de pilotagem, um pouso por instrumentos categoria 3?

Se não viu, verão agora. E não esqueçam que o piloto tá controlando cerca de 250 toneladas a uma velocidade superior a 200 km/hora...
E depois ainda dizem que piloto ganha bem!
Isso com um tubo de aluminio com cerca de 200 passageiros, em média!